sábado, 3 de agosto de 2013

Pilar, uma mãe como tantas outras


Esta é a segunda vez em que me refiro ao personagem Félix. Agora, não com uma crítica à sua construção, e sim para falar sobre um momento da trama, exibido ontem, que reflete um momento da vida de todo LGBT: o momento da saída do armário, mesmo que esta não seja exatamente voluntária.
Mais que uma discussão sobre esta saída, quero falar sobre a relação que todo gay tem com sua família. A família é sempre a primeira a saber e a última a acreditar. Diferentemente de um jovem negro, por exemplo, que ao ser insultado na rua é acolhido pela sua família, o jovem LGBT não é acolhido. É quase sempre reprimido pela sua família. Os pais, com suas expectativas em relação ao filho homem (e à filha mulher também), apenas conseguem imaginar um destino imperfeito a ele. E os primeiros momentos desta saída do armário costumam ser bem difíceis.
Em meio à confusão, Félix encontrou compreensão exatamente em sua mãe, que sempre soube, mas não tinha coragem de dizer a si mesma. Uma pessoa esclarecida, mas que até então ainda refletia alguns preconceitos exatamente pelo distanciamento, por não olhar para seu próprio filho, mesmo quando convencida a fazê-lo.
Comigo foi um simples “não falo disso”. E não falamos mais disso, muito embora, sem falar, evoluímos em nossa relação no dia a dia. O preconceito existe enquanto há uma distância entre você e aquilo que você não conhece. À medida em que minha mãe foi me conhecendo nesta nova atitude e que foi conhecendo meus amigos, esta barreira do preconceito foi caindo. Hoje, mesmo pertencendo à igreja, sua atitude é quase a atitude de uma ativista, de me defender e de ter orgulho de seu filho.
Hoje só posso lhe agradecer por ter me acolhido e me defendido da estupidez homofóbica.
Da mesma forma fazem as Mães pela Igualdade, um grupo de mães que luta contra a homofobia, defendendo a igualdade de direitos para suas famílias, enquanto reclamam justiça pelos jovens assassinados por sua orientação sexual. São mães que foram além do imaginário popular, que considera que homossexuais serão necessariamente marginais, e reconheceram que seus filhos podem ser grandes pessoas na vida. Não apenas no sentido profissional, mas no sentido de caráter.
Esta relação entre gays e suas mães perdura por toda a vida. Quase sempre o filho gay é quem fica com a mãe, pois os filhos héteros tem suas esposas, que estabelecem uma relação de concorrência com a sogra, enquanto o namorado ou esposo do filho, não. O casal sempre se aproxima mais das mães.
Uma boa hora para pensarmos em como as relações familiares se constroem, como se constrói o amor e o respeito, e como tantos ressentimentos podem ser evitados quando há compreensão. Como disse à minha mãe naquela ocasião, “só quero que a senhora entenda que eu gosto de outros homens e isso não muda nada em minha vida”. E ela entendeu; para ela, nada disto mais é um problema.

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